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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

#Árabe é diferente de #muçulmano

Encaminho uma notícia que foi publicada hoje cedo no Globo, mas só ganhou destaque no fim do dia. Trata-se de uma iniciativa de S.S. Papa Bento XVI para conter a sangria de cristãos nos países árabes (além de Israel).

Ora, isso chama a atenção porque, como primeiro ponto, o Oriente Médio, os países de Israel, Líbano e Egito constituem a chamada Terra Santa. Junto com a Síria, o Iraque e a Turquia, compõem uma paisagem citada no velho e no novo Testamento que fundamenta a fé cristã. Depois das antigas Cruzada, que - de uma maneira bestial aos nossos olhos civilizados, mas também de modo plenamente sensato para a realidade da Idade Média - por séculos tentaram garantir o domínio cristão sobre a região, não se trata aqui de uma incursão por controle, mas de uma iniciativa por sobrevivência e pela diversidade. Católicos, mas também cristãos de igrejas orientais, tem diminuído em número, vítimas de preconceito e perseguição. A segurança para que eles possam professar em paz sua fé é, pois, a principal meta do debate proposto pelo Papa.

O outro ponto que destaco é também uma oportunidade para chamar atenção a uma confusão que muitas pessoas fazem, por desconhecimento mesmo, sobre o mundo árabe. Ser árabe não é sinônimo de ser muçulmano, mas muitos ignoram isto. A preocupação dos líderes cristão, como se vê no texto que reproduzo abaixo, é justamente, com a diversidade religiosa dos árabes não-islâmicos. É bom saber que há libaneses - com etnia, cultura e língua árabe - católicos maronitas. Há iraquianos - com etnia, língua e, em boa parte, cultura árabe - judeus (são os chamados judeus Mizrahi, que são curdos, iemenitas, libaneses, etc.).

O problema é que há cada vez menos deles. No Brasil mesmo, a grande maioria dos árabes emigrados para cá (sírios e libaneses, sobretudo) é católica de rito de oriental. A ideia do debate é tentar reverter este quadro e eu acredito que um excelente primeiro passo é dissociarmos a vivência árabe da vivência islâmica, embora a realidade islâmica seja inerente aos povos árabes de hoje e não é ela que se quer combater.

Papa debaterá com bispos êxodo cristão no Oriente Médio

Plantão | Publicada em 07/10/2010 às 09h19m

Reuters

PARIS - O Papa Bento XVI debaterá, a partir de domingo, com bispos do Oriente Médio como enfrentar a redução no número de cristãos na região, como proteger as minorias e como promover a harmonia com seus vizinhos muçulmanos. Durante duas semanas, o sínodo irá discutir questões como o conflito israelo-palestino, a instabilidade no Iraque, o radicalismo islâmico, a crise econômica e as divisões entre as muitas Igrejas cristãs da região.

Os participantes são todos de Igrejas locais subordinadas ao Vaticano, mas o contínuo êxodo de cristãos de todas as denominações - católicos, ortodoxos e protestantes - leva os bispos a examinarem de forma mais ampla os desafios enfrentados por todos os seguidores de Jesus no Oriente Médio.

A situação varia entre os países, mas em geral o quadro é dramático para os cristãos, que constituíam cerca de 20% da população da região há um século, e hoje são apenas 5%, uma cifra que continua caindo.

- Se este fenômeno continuar, o cristianismo no Oriente Médio vai desaparecer - disse o reverendo Samir Khalil Samir, um jesuíta egípcio radicado em Beirute e que participou da redação dos documentos de trabalho que servirão de base para as discussões no Vaticano. - Esta não é uma hipótese irreal. A Turquia passou de 20% de cristãos no começo do século 20 para 0,2% agora.

No Iraque, acrescentou, o êxodo cristão desde a invasão americana de 2003 "pode fazer a Igreja se esvair". Os especialistas envolvidos nos preparativos do sínodo defendem amplas mudanças sociais no Oriente Médio, que deem espaço para governos laicos e democráticos e para a cooperação inter-religiosa.

- O que está em questão é a renovação da sociedade árabe - disse Samir, lembrando que a maioria dos cristãos da região também se identifica como árabe.

Segundo ele, muitas sociedades do Oriente Médio reagem às pressões modernizantes e ocidentalizantes fundindo as identidades árabe e muçulmana, o que reduz a liberdade religiosa para as minorias não-islâmicas.

O documento-base diz que "os católicos, junto com outros cidadãos cristãos e pensadores e reformistas muçulmanos, deveriam ser capazes de apoiar iniciativas que examinem minuciosamente o conceito de 'secularismo positivo' do Estado."

"Isso poderia ajudar a eliminar o caráter teocrático do governo e permitir uma maior igualdade entre cidadãos de diferentes religiões, estimulando assim a promoção da democracia sã, positivamente laica em sua natureza", diz o texto.


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