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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Reflexões sobre o uso midiático de Susan Boyle

Superado o êxtase inicial, a catarse dos desprivilegiados com a aparição “tapa na cara” de Susan Boyle na televisão britânica, uma dúvida mais antiga do que o império da beleza nos meios de comunicação ressurge: alguma coisa acontece por acaso?

O sucesso de Susan ante o cinismo da platéia e trio de jurados do programa Britain’s got talent parece sincero e pode muito bem ser. A repercussão alcançada pelo fato, na imprensa escrita, na Internet, em redes de TV do mundo inteiro – incluídos uma entrevista transatlântica com Larry King, CNN, e um convite para o sofá da Oprah – e nos contratos de gravação que despontam no horizonte da sensação escocesa atende a um encantamento natural do público, mas também a uma lógica menos nítida e mais calculada. Nada é por acaso!

Susan Boyle, uma senhora escocesa de 47 anos, desempregada, tratada publicamente como “feia”, possui uma identificação com todos os que, no planeta, sentem-se oprimidos pela ditadura da juventude, da beleza e do sucesso a qualquer custo. Em meio à crise global que varre, sobretudo, os Estados Unidos e a Europa, o triunfo de uma desempregada reacende as esperanças, conforta e pacifica o conjunto de homens e mulheres que, na meia idade ou mesmo desiludidos na juventude, encontrava-se prestes a se revoltar contra o sistema.

A lógica marxiana não venceu, porque não contava com a capacidade do capitalismo reinventar-se continuamente, apesar de prever a absorção pacificadora de um ou outro indivíduo marginalizado. Um ícone para a coletividade.

Susan Boyle merece o sucesso que faz. Merece mais. Entretanto, ela é um ícone, para o bem e o mal dos indivíduos coletivizados que enxergam nela um espelho da própria derrota a que lhes submete o sistema.

Como nada é por acaso, no ano de Quem quer ser um milionário?, tanto a vitória de Susan quanto o sucesso do filme anglo-indiano, curiosamente, reacendem o interesse por um gênero de programa que vinha perdendo sua audiência, ano após ano. Nada como a esperança de que um novo slumdog ou uma outra Susan Boyle surja por aí, para manter ligados os televisores da classe-média.

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